(83) 9 9955-4827

Não temos o “Maior São João do Mundo”. Temos um “Festival de Musica”

Ao ser publicada a programação musical do São João de Campina Grande 2019 passei a refletir sobre o que é o São João, sua música, dança, culinária e sobre o turismo como festa da Cultura Regional. Lancei então nas mídias sociais o seguinte texto com intuito de buscar opiniões:

O sonho de Ronaldo da Cunha Lima e a Cultura Regional passaram ao desprezo da Administração Pública Municipal de Campina Grande. O São João é uma festa Regional onde a cultura do Forró, Raiz ou de Plástico, deveriam nortear e realizar o evento. Nas demais festas regionais do país as raízes são preservadas. Na Paraíba as raízes são arrancadas como um estupro violento onde o Forró é substituído pelos demais ritmos brasileiros, tornando a festa um “Festival” e não uma festa “Regional”. O Turista vem para conhecer nossa cultura e sai convicto que a propaganda foi enganosa e que não temos cultura. Somos fake!

Foi possível de imediato perceber que a minha percepção em defesa do São João e não de um Festival de Musica era quase unanimidade, havendo discordância de apenas um leitor. Primeiro quero esclarecer que quando uso a expressão “Musica” sem o seu acento é proposital para arguir que o Festival que foi montado usando a denominação de “Maior São João do Mundo” não seleciona os melhores e sim quem possa, com suas péssimas letras e melodias, atrair “público” mesmo que sejam de cunho difamatório à imagem e honra da mulher. Mas o que fazer quando a própria mulher entende que “Jeniffer” é música e a faz um sucesso?

Quero começar com a única abordagem do leitor que teve o cunho filosófico de ser contra e que ao final apenas veio confirmar tudo que foi abordado. Assim criticou “negativamente” meu texto o leitor e amigo do Instagram “monteirohomero”, disse ele: “Nós não somos fakes. Pensar que o São João de Campina deve se resumir somente ao autêntico forró, é afastar o nome de Maior, que representa a pluralidade cultural e dos diversos gostos musicais, e resumi-lo à pequeno. O São João só é grande, porque atende ao meu, ao seu, ao nosso gosto. Dizer que a cultura regional passou ao desprezo, não é verdade. Na programação, temos Flavio José, os Três do Nordeste, Genival Matias, Biliu de Campina, Amazan, Elba Ramalho, Grupos Folclóricos, Festival de Quadrilhas Juninas, cidade cenográfica, palcos temáticos fazendo alusão à cantores do nosso Estado, Galante e Sítio São João. Se isso é estuprar a cultura a regional, o crime é descaracterizado por não ter o tipo subjetivo do dolo. ”

A resposta do leitor e amigo, a quem respeito suas considerações porque estamos em plena Democracia e o direito de expressão deve ser aceito sem qualquer censura, teve, apenas o sentido de combater o tema e que ao final apenas confirmou tudo que ponderei sobre a desconstrução da Cultura Popular e da Festa Regional do São João. Primeiro o tema que coloquei em pauta foi MUSICA. Não fiz qualquer abordagem sobre Grupos Folclóricos, Festival de Quadrilhas, cidade cenográfica, palcos temáticos e nem dos festejos de Galante e Sítio São João.

Quando houve a citação de Galante e Sítio São João deveria ter sido observado pelo leitor que em Galante ainda podemos encontrar o autêntico São João. Não sendo, diferente, no Sítio São João que sendo um empreendimento particular tem programação de autêntica manifestação da cultura popular. Lamento que o leitor tenha confundido programação musical com estrutura física ou de logística.

Tratei do chamado “Maior São João do Mundo” e ao rebater meu tema o leitor entendeu que a festa regional é “pluralidade cultural”. Sendo uma pluralidade cultural não é o “Maior São João do Mundo” e sim um “Festival”. Confirma o leitor o que argumentei. Ademais, quando analisamos que as demais Festas Regionais do Brasil não permitem este “pluralismo cultural” (Parintins; Rodeio ou Festa do Peão; Carnaval em Olinda; Carnaval de Salvador; Carnaval do Rio de Janeiro; entre outros) não permitem a contratação de Forrozeiros como atração das Festas porque a cultura deles é que prevalecem, enquanto nós permitimos que outras culturas venham se sobrepor à cultura regional. Basta apenas observar que em uma vasta programação de trinta dias o leitor citou como apresentação regional apenas seis (06) atrações e que nenhuma delas é a principal porque não faz abertura e nem fechamento; apenas quanto a Elba Ramalho deve ter seu retorno ao dia do São João em face de suporte político após seus comentários sobre Marília Mendonça que fez com que fosse preterida em 2018, perdendo o trono da noite de São João. Isto apenas comprova que não temos cultura regional e que se temos estamos deixando como preferencial a cultura de outras regiões.

A verba pública de um São João que tem como finalidade promover a cultura regional não é para custear pagamento de cachê de artistas que não tenham no seu total repertório a execução musical da cultura regional. A Legislação pertinente trata da justificativa da contratação do artista vinculado ao evento. Desta forma, o repertorio de artista que não contemple em sua totalidade músicas cantadas da cultura regional nordestina é DESVIO DE FINALIDADE. Outro aspecto que deve ser observado é que a dignidade da pessoa humana do Forrozeiro está sendo brutalmente atacada quando ao serem, em números ínfimos da programação, contratados e que são pagos com cachês que não permitem nem pagar a feira da semana. Precisamos saber que contratação de artista pela administração pública com desvio de recursos públicos é crime de improbidade administrativa quando não atende aos requisitos legais, onde o ato ilícito pode ser encontrado em várias fases da contratação.

Fiquei muito feliz com o comentário do leitor e amigo de Instagram, acima citado, e que me deu a oportunidade de verificar que carecemos de uma cultura autêntica e de um povo autêntico que defenda suas raízes e não o estrelismo do universo artístico. Cultura é um tema que muitos falam sem conhecimento porque apenas avaliam seu gosto pessoal que não tem parâmetros para saber ou conhecer da cultura regional.

Quando verificamos que outros comentários conseguem ampliar a cultura textual enfatizada temos a esperança de dias melhores. Não sou contra Wesley Safadão porque adoro suas músicas, sua expressam de palco, melodias e sua energia de levar duas horas de show como já assisti e aplaudi por cantar e não ficar falando ou contando histórias. Contudo, ele deveria ser contratado para cantar apenas músicas de forró sendo exemplo para os demais e que, assim, nossa cultura regional estaria preservada. Já pensaram Elba Ramalho comandando um trio em Salvador no Carnaval tocando apenas Forró? Será que lá a pluralidade cultural seria realidade?

Outros leitores, estes especificamente do facebook, falaram sobre o tema da seguinte forma: “Patrício Neto Falou tudo!; Ônio Emmanuel Lyra Concordo em grau, número e gênero…!!! ???; Catarina Carvalho Verdade. Hoje a festa tem mais atrações sertanejas, que forró pé de serra!1 ; Edson Ferreira Silva Administração fuleira. Deixar de pagar a um artista local para dar dinheiro a uns ricos de outros Estados.2 ; Isabel Mello BOA TARDE!! DR.RICARDO BEZERRA. CORCORDO PLENAMENTE COM VOCÊ. LAMENTÁVEL!!! A CULTURA LÁ ACABOU!; João Alves Junior Corretíssimo…Grandes nomes da cultura nordestina não estão na lista daqueles que irão compor o São João de Campina Grande.; Helga Chaves Fato3 ; EdvaldoLaurentino Silva Laurentino Valeu Ricardo!!! Concordo.;

Cláudia Doroti Pura verdade ??; Maria Luiza Bregantim Concordo com vc.4 ; Graça Almeida concordo plenamente; Maria Elizabete Concordo plenamente; Maria Dos Anjos Oliveira Muito triste ver isso! Nosso folclore indo para a vala, nossos hábitos e costumes sendo trocados pelo estilo americano. Triste!!5 ; Raimundo Padilha Concordo plenamente com vc.6 ; Antônio Lima Na verdade, é triste o que estão fazendo com o nosso São João. Os brasileiros vêm conhecer a alma, a cultura, as tradições nordestinas e descobrem que os nordestinos não têm alma, nem cultura nem tradições, e pior, negam sua identidade, com certeza. Estamos revoltados com razão. Estão destruindo nossa cultura tão rica, tão bela. Devemos nos orgulhar de ser nordestino. Pelo contrário. Nossas tradições, nosso folclore são belos, são nosso orgulho. Nossos ritmos regionais, de tão lindos, são cantados por todo o Brasil. Por todos os nordestinos, obrigado, Ricardo Bezerra, por ter iniciado esse protesto. 7 ; Piccino, O rock in rio não existe sem rock, na festa de peão o que impera e o sertanejo …., no carnaval o samba …. Agora o São João sem forro ??? Ou, com uma mínima participação do que deveria ser o carro chefe ??? …8 ; Leandro Santos Equívoco dos organizadores. O Maior São João do Mundo deveria ser privativo do forró. O ritmo imortalizado pelo povo de nossa terra.9 ; Salma Cavalcante Albuquerque Albuquerque Pura verdade; Martha Falcão Totalmente descaracterizado !!10; Angela Leila Araujo Forró pra mim é o pé de Serra, nada a ver com sertanejo, concordo! 11; José Gilvan Dantas Verdade amigo Ricardo.; Werner Batista Deixou de ser São João, para ser Avacalhação porque só pensam em dinheiro. O que Gil Bala (para não dizer outra coisa) tem a ver com Forró. Estão acabando nossas tradições.12; Alquimides Daera Infelizmente não temos gestores públicos, isso é uma vergonha.13; Maria Neves Araújo Oi amigo, que prazer!!!! Concordo plenamente com sua observação!; Adriano Carvalho Apoiado14; Jonson Lustosa Uma realidade pura ?�?�?�?�?�✍; Vera Soares Parabéns Ricardo pelo protesto,veio em boa hora já era tempo de alguém iniciar e vindo de vc a cultura nordestina está muito bem representada, comungo com você vamos lutar pelo maior são João do mundo e seu tradicional forró de raiz.15; Virginia Lucia Verdade???; Rozangela Rodrigues Araujo Concordo!!!!!; Claudia Cavalcanti CONCORDO COM VOCÊ. ???????.” Quando se faz esta pesquisa voluntária percebe-se que a quase unanimidade defende a Cultura Regional, enquanto que os Gestores Públicos visam uma Publicidade Enganosa em ofertar “O Maior São João do Mundo” quando na verdade estão deixando de fomentar a cultura regional com desvio de recursos públicos para financiar o pagamento de cachê de artistas de “pluralidade cultural” que não fortalecem a cultura regional e, ainda, levam todos os dividendos para seus respectivos Estados. A pobreza cultural do homem leva o Brasil à pobreza administrativa.


1 Catarina é de Campina Grande e ao fazer a referida citação mostra, apenas, que a cultura regional não é o objeto da contratação. 2 Aqui entra o que abordei sobre a dignidade da pessoa humana, do Forrozeiro, que recebe uma miséria de cachê em detrimento de cachês de grande monta. 3 Em uma única palavra a leitora resumiu toda desconstrução do Maior São João do Mundo. 4 Maria Luiza é do Centro Oeste e conhece bem suas festas Regionais e a não permissividade do “pluralismo cultural” do leitor e amigo “monteirohomero”. 5 Sentimento de quem conhece a cultura popular. 6 Paraibano que hoje reside no Centro Oeste e que também conhece os fatos da região onde não há o pluralismo cultura. 7 Professor Universitário – UFPB, aposentado, e ex-Procurador do Estado faz um relato criterioso e com orgulho de ser nordestino, enquanto que outros buscam no seu gosto pessoal a defesa de um pluralismo que apenas desconstrói a cultura regional. 8 Fiz no texto a referida abordagem onde em outras culturas regionais o Forró não é contratação, visto que eles resumem suas contratações ao fomento da cultura local. 9 O Nordeste possui inúmeros artistas que cantam e festejam com o ritmo forró para permitir que o turista não seja enganado na sua publicidade e ao vir para o Maior São João do Mundo possa ver a cultura regional e não um Festival com Axé, Sertanejo, entre outros. 10 Historiadora que se expressa através de conhecimento próprio. 11 Ângela é de Campina Grande e morou muitos anos em Angra dos Reis, estando hoje em Campina Grande, sabedora que nas festas regionais de Angra e do Rio de Janeiro o ritmo é Samba e não permite a entrada do Forró. 12 Como abordei não se é contra o artista e sim quanto ao seu repertório que não é objeto do evento. 13 Músico e companheiro musical de Vandré e que não fala em defesa do seu cachê porque ele não é cantor de Forró e que sabe que a gestão pública é quem define a contratação.

RICARDO BEZERRA
Advogado, Escritor
Academia Paraibana de Letras Jurídicas
Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
Academia de Letras e Artes do Nordeste – Paraíba
União Brasileira de Escritores da Paraíba
Autor do livro: LICITAÇÃO E CULTURA – Contratação de artista pela
Administração Pública – Editora Ideia – 2018 – 170 páginas, João
Pessoa, Paraíba.